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CASOS DA FÁBRICA DA SIMCA DO BRASIL CONTADOS PELO FUNCIONÁRIO DARIO RIBEIRO

A educação tem o seu preço

Havia um francês, de nome Tabuteau, Gerente de RH, apelidado de "consuleso" porque sua (dele) esposa era diplomata francesa de carreira e tinha algum cargo de Adida no Consulado Francês, em São Paulo ou Santos, não lembro. 

O Tabuteau tinha o hábito de saudar a todos os que encontrava, a qualquer hora do dia, com um "bon jour" e um aperto de mão. E trabalhava no extremo final do corredor onde nosso Departamento ocupava a segunda sala. Então, os encontros do Bandeira e meus , com ele, eram freqüentes. E lá vai "bon jour" e um aperto de mão, de manhã ou à tarde, enfim, a qualquer hora.

 

Certa vez, entrei no banheiro, e lá estava o Tabuteau, urinando, com sua (dele) mão direita a dirigir a operação. Quando me viu, "passou a vara"  literalmente ) para a mão esquerda e me estendeu a mão direita!

Tive de cumprimentar o francês e, depois, é claro, lavar as mãos!...

 

A esperança é a última que morre

Já o Fernando Machado de Almeida adorava puxar conversa com um funcionário da Simca que primava pela indiscrição quanto à própria vida íntima, conjugal.

Certa vez, o Fernando perguntou ao tal:   

"- O sr. enraba sua esposa?"   

E o curioso é que o fulano respondeu: 

"- Boa pergunta, Engenheiro!   Eu bem que tento, mas ela não deixa. Vou continuar tentando, até conseguir!..."

Biscatão

E aí vai outra, curiosa para que se fixe a diferença de linguagem entre paulistas e mineiros.

Havia uma secretária da Gerência de Recursos Humanos, brasileira, Ana Maria, com sobrenome Yazbek (árabe), mas de origem suíça, por parte de mãe. Tinha bem mais de metro e setenta de altura e aparentava pesar mais de 80 quilos.

E o Jairo Guzman, mineiro, apelidou-a de "biscatão"...

Só que, em São Paulo, o adjetivo "biscate" não significa apenas "miudeza","coisa de pouca monta", "servicinhos eventuais"... Tem, também, a conotação (ofensiva) de "mais que galinha", "mulher dadivosa", etc.

 

A Ana Maria ficou muito irada, até que, revelado o motivo de sua "bronca", foi esclarecida.   E, embora não gostasse, ficou "Biscatão" para os mineiros, paulistas e até para alguns franceses (neste caso, "Biscaton").

Chico Landi: enfim te peguei!

O legendário Chico Landi, brasileiro que venceu o GP automobilístico de Bari (Itália), em 1949, encerrou a sua carreira profissional já não mais pilotando, mas chefiando administrativamente a equipe de competições da Simca.

 

Esta era composta por Cyro Cayres, piloto de nomeada, já maduro, Jayme Silva, que pretendia ser o "primeiro piloto" e era excelente ajustador de motores, arrojado, daquele tipo que corre "no limite" e, como terceiro piloto, José Fernando Lopes Martins, de apelido "Toco" também bom preparador de carros e almejando "subir", como piloto.

 

Tanto Chico Landi quanto Cyro Cayres (já falecidos), maduros, dirigiam, na cidade, dentro das normas de segurança e de velocidade.   Já o Jayme Silva e o Toco "voavam baixo", mesmo pelas avenidas de São Paulo. Isto porque era permitido que os pilotos usassem os carros de competição para seu transporte e para testes, o que era feito a qualquer momento.

 

O Jayme sempre saía com o carro que ele pilotava, vermelho, com uma faixa verde-amarelo no sentido longitudinal, sobre o capô, capota e porta-malas, e um enorme círculo branco, no capô e em cada uma das portas dianteiras, com o número 26, que era o utilizado por ele nas corridas. E a Polícia Rodoviária era obrigada a ver o Simca 26 passar, sem condições de o alcançar...

 

Certa vez, e quando a Willys denunciou, no Serviço de Importação, que os Simca Abarth que a Simca do Brasil trouxera para "testes" e "estudos" (mas, que na verdade, tinham a missão de acabar com a hegemonia dos Willys "Interlagos" nas pistas) estavam com seu prazo de permanência vencido, o Chico Landi foi encarregado de tentar resolver a situação na Alfândega de Santos, para prorrogar a permanência dos Abarth. E foi, pela Via Anchieta, com o carro que estava à mão, naquele momento, que, por acaso, era o carro nº 26 normalmente utilizado pelo Jayme...

 

Mesmo andando em velocidade compatível, logo foi parado por um policial rodoviário que, não disfarçando o prazer, proclamou um "Enfim te peguei!"

 

Dizia o Chico Landi que, além do sermão que ouviu, aquela foi a primeira multa de trânsito de sua vida!

Controle de qualidade, o calcanhar de Aquiles

Vivi várias situações relativas a reclamações de clientes sobre o controle de qualidade. Não gostava desses fatos porque, a par de minha obrigação profisional, eu vesti a camisa da Simca e, por vezes, era obrigado a ouvir queixas e reclamações pesadas (até em virtude do preço do carro).

 

Um desses clientes, por exemplo, comprou um carro vermelho, "zero quilômetro".   Por qualquer motivo, raspou a pintura do veículo e, ao tentar repará-la, viu que, por baixo, o carro era ... PRETO!   (tratava-se de um dos 66 automóveis preparados para a comitiva do Marechal de Gaulle, com o painel trocado, para ficar "zero quilômetro"...).

 

Outro, mexendo no compartimento do motor, descobriu uma peça com a etiqueta de "refugada".

 

E, o que era comum, pela localização da fábrica, era o seguinte: a Simca tinha um trato com as concessionárias, segundo o qual a Simca não venderia diretamente, para ninguém. Apenas através dos revendedores autorizados. Mas...

 

Um ou outro comprador "VIP" retirava o carro da fábrica (ou mandava seu motorista retirá-lo); e o trajeto era sair do portão principal da fábrica, à direita, e, logo em seguida (cerca de 300 metros), fazer uma curva fechada à esquerda, para acesso à Via Anchieta.   Acontece que o sinalizador de direção era regulado por tempo e, antes que voltasse à sua posição original, vertical, incendiava a proteção de verniz dos fios que ficavam na coluna da direção, soltando fumaça relativamente intensa e aromatizada.

 

A reação normal do condutor era a de parar no posto de gasolina que ficava no local da curva fechada à esquerda.   Ainda bem que os empregados do posto já sabiam que aquilo não era um incêndio grave!   E se fosse?

 

Então, custaria alguma coisa fazerem a "queimação" prévia daquele verniz na própria fábrica?

 

Quando  usei, por algumas semanas, um Rallye da linha Emi-Sul (verde metálico, com estofamento em couro vermelho, uma beleza!), eu o estacionava dentro da fábrica, mas, diariamente ele chegava "desregulado" e, quando eu saía, para casa, estava em perfeita ordem. Com esse tipo de "mordomia", era u´a maravilha... Imagino, em contrapartida, o aborrecimento que seria para quem não tivesse a oficina confiável a alguns passos do seu local de trabalho, e funcionando durante todo o dia...

De Gaulle: aquele francês deu trabalho!

A visita do Marechal De Gaulle (estranhou, porque, dos muitos Marechais brasileiros, só o Castello Branco foi combatente - os demais atingiram seus postos pela chamada " Lei da Praia", ou pela transferência para a Reserva...) incluiu a COSIPA ( Cia. Siderúrgica Paulista ), ao pé da serra do Mar, e, na volta, a Simca. E aí vai um breve relato:

 

Tudo começou quando a Simca francesa, que tinha  participação acionária da Fiat italiana - e era dirigida, por isso, por um franco-italiano chamado Pigozzi, "Pigozí", para os franceses - transferiu seu controle para a Chrysler International.

 

Segundo contavam, De Gaulle teria interpelado o Sr. Pigozzi, em público, dizendo-lhe que, antes de ceder o controle da empresa, deveria ter consultado o Governo da França...

 

O caso é que o Presidente De Gaulle, de início, não estava disposto a visitar a Simca do Brasil. Mas, um intenso trabalho diplomático, através do irmão do Dr. Sebastião, Everaldo Dayrell de Lima (diplomata de carreira), aliado à nossa (Relações Públicas) modesta colaboração junto ao Consulado Francês em São Paulo, conseguiu fazer com que Marechal  mudasse de ideia e incluísse a visita à Simca no retorno de sua ida à COSIPA, já que a Simca estava situada no caminho de volta, à margem direita da Via Anchieta..

 

Acontece, porém, que antes de tudo isso, um francês, Victor Sapin Lignières, ligado à OAS (Organization de l´Armée Sécrète), grupo separatista da Argélia, quando esse país era colônia francesa, fora dirigente da Simca do Brasil...

 

Com medo da repetição do "Dia do Chacal", e conduzido pela propaganda enganosa que se fazia do Brasil (cobras, índios, "não é um país sério", etc.), o Presidente tomou todos os cuidados, como, por exemplo, EXIGIR acesso direto da Via Anchieta para a fábrica, sem passagem pelo "trevo" de entrada a São Bernardo do Campo, o que nos deu muito trabalho junto ao DER (Depto. de Estradas de Rodagem) e a obrigação de DESFAZER tal acesso direto, assim que a comitiva francesa deixasse a Simca.

 

Mas, como o prédio principal da Simca tinha três pavimentos, ficando a fábrica no subsolo, EXIGIU a abertura da parede e a construção de um palanque, na altura do jardim, com vista para a face interna (fábrica, propriamente dita), palanque esse que deveria estar forrado de cor vinho e conter um declive até o piso da fábrica, para o caso de querer, o Marechal, descer e cumprimentar os operários...

 

Observação: Soubemos que, por vaidade e arrogância ("um Chefe de Estado não deve baixar a cabeça"), S. Exa., muito alto e míope, odiava escadas, principalmente para baixo, obrigando seu ajudante de ordens, quando as havia, a segredar o número de degraus, de forma que o Presidente da França descesse a escada olhando para cima!

 

A visita foi, de fato, cronometrada; os operários  da Simca cantaram a "Marselhesa", a recepcionista principal dos escritórios estava uniformizada como aeromoça da Air France e, na parede externa da fábrica, em ângulo que possibilitava a leitura, pelo Marechal, meu chefe, Antonio Rangel Bandeira, mandou pintar a frase "A Cruz de Lorena e o Cruzeiro do Sul se irmanam na visita do Presidente de Gaulle".

 

Foi feita uma prévia completa de todo o roteiro do Marechal, no Brasil, com exageros de segurança, como no caso do presente que a Simca queria dar, consistente em uma tapeçaria do baiano Genaro de Carvalho.

 

A Segurança francesa exigiu que o presente NÃO FOSSE EMBRULHADO, NEM EMBALADO EM QUALQUER TIPO DE CAIXA! Colocamo-lo (o tapete) em um cavalete, coberto com um lençol, na hora pré-determinada o lençol foi removido e, ato contínuo, agentes de segurança, franceses, pegaram o tapete, examinaram-no e o embalaram para o transporte!...

 

A programação do Cerimonial brasileiro previa o uso de automóvel do Governo do Estado, em São Paulo (um "Lincoln"), pelo Presidente e pelo Governador, mas, por via das dúvidas, a Simca resolveu preparar um automóvel para o deixar à disposição do Marechal. Posso dizer que o pessoal da Simca do Brasil teve um sonho de grandeza e imaginou que De Gaulle pudesse preferir desfilar em um automóvel de origem francesa...

 

Preparou-se, então, uma "limousine" (Prèsidence, é claro, com a carroceria alongada, da cor ouro). Ela NÃO tinha vidro corrediço isolando os passageiros do motorista, que era baixinho para poder dirigir com o banco dianteiro instalado mais à frente do que o normal e, ainda, com uma concavidade na parte posterior do encosto, tudo isto para maior folga às longas pernas presidenciais e a dois banquinhos escamoteáveis (transversais), como aqueles usados no bagageiro do "Jangada", para acomodação do(s) ajudante(s) de ordens do Marechal De Gaulle e de seu anfitrião. Para tal, o carro foi alongado, externamente, e não sei que fim levou....

 

A mim, por ser alto, com 1,90m, cabia a missão de testar a comodidade do banco traseiro. Para tanto, além de terem treinado aquele motorista baixinho, colocavam-me um ou dois livros sobre a cabeça simulando o tradicional quepe do Marechal e me faziam entrar, sentar e sair do carro, com toda aquela parafernália.

 

Tudo inútil, pois o tal carro não foi usado. Usados foram 66 (sessenta e seis) carros que a Simca disponibilizou para as três comitivas, em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília;  todos novos, pretos, com estofamento de couro vermelho e submetidos a rigorosos testes de qualidade. Nenhum apresentou qualquer defeito!

 

 

Escavação dispendiosa

Também relembrando, houve o caso da ampliação das instalações fabrís, abaixo do nível do solo, necessitando, por isso, de trabalhos de escavadeira.

 

Mas, ninguém sabia  (ou, se sabia, não contou), que, no subsolo do terreno da Simca passavam cabos da Telefônica e dutos da Petrobrás, estes da refinaria de Capuava (cidade vizinha a Mauá e  a Santo André) até Rio Grande da serra e Cubatão. 

 

O prejuízo foi grande, com indenização pelos estragos e por lucros cessantes!

*Observações feitas pelo proprietário de Simca, Norian Munhoz, de Santo André, SP: “Uma correção na entrevista do Dario Ribeiro, ESCAVAÇÃO DISPENDIOSA: é citado a Refinaria de Capuava, dando como Capuava uma cidade ao lado de Mauá. Na realidade a Refinaria fica no Bairro Capuava no Município de Mauá. O Bairro Capuava faz divisa com Santo André”.

 

 

Inglês, a língua (quase) universal

Quando "les hommes de Crislér" vieram a São Paulo, prestes a assumirem a direção da Simca do Brasil, oferecemos-lhes um jantar de confraternização.

 

Na disposiçao dos lugares à mesa, minha mulher e eu ficamos entre um Gerente da Simca, engenheiro francês, com curso superior, e um norte-americano, da Chrysler international, temporariamente radicado em Genebra.

 

O francês, evidentemente, querendo puxar o saco do americano, MAS NÃO QUERENDO ABRIR MÃO DA TRADICIONAL ARROGÂNCIA, fez que não falava/entendia inglês. O americano não entendia francês...

 

Ficamos, então de intérpretes, nós dois entre os dois.

 

O francês perguntou:

 

- "D´où êtes vous?" 

 

O americano, mudo.

 

Interviemos:

 

- "Where are you from?"  

 

O americano:

 

- "Ohio".

 

Nós, para o francês:

 

- "Orraio".  

 

O francês:

 

- "Comment?"

 

Nós:

 

-"Ô, "Hache", I, Ô".  

 

E o francês:

 

-"Ah! Oiô! "

 

Como visto, os franceses se referiam aos novos proprietários norte-americanos como "hommes de Crislér". Já a concorrente Willys era chamada de Vilís e a proprietária da fábrica fronteiriça, Volkswagen, era conhecida como "Volsvajã". Dario Ribeiro era o " Darrrrrriô".

 

Fato é que não adiantou nada puxar saco dos americanos, porque quando a Chrslyer assumiu mandou todos os franceses embora.

 

 

Leonor

Esta estória é pitoresca, não porque envolva a Simca (aliás, nada tem a ver...), mas pela importância das pessoas que a protagonizaram:

 

Quando houve a Revolução de 1964 que depôs João Goulart, o exército brasileiro, como um todo, estava administrativamente dividido em "exércitos", sendo São Paulo a sede do "2º Exército" e Porto Alegre a sede do "3º Exército". Este, o 3º Exército, assegurou o pouso de retorno e a posse de João Goulart que, na data da renúncia de Jânio Quadros, era Vice Presidente e estava em visita à China comunista - e teve, por isso, sua posse ameaçada, já por algumas facções militares.

 

O comandante do 2º Exército (em São Paulo) era o General Amaury Kruel, compadre de João Goulart, logo "transferido" para outras plagas (nem me lembro se foi rebaixado, mas deve ter sido...).

 

Para substituir o general Kruel, foi designado um General que vinha de Minas Gerais, Carlos Luiz Guedes, bem estilo "tradicional família mineira".

 

E, como era protocolar - e de bom tom -, o Gen. Guedes marcou uma audiência com o Governador de São Paulo, Adhemar de Barros, para se apresentar e para as saudações de praxe.

 

Adhemar, como eu já lhe disse,  era conhecido - e famoso - pelo destempero de linguagem e de atitudes...

 

O General Guedes, chegando ao palácio do Governo paulista, foi encaminhado a uma ante sala, no andar superior, onde deveria aguardar o Governador. Com a demora deste, o General, impaciente, levantou-se e pôs-se a olhar pela janela, para os jardins, enquanto a primeira-dama, D. Leonor Mendes de Barros, colhia algumas flores, agachada, naturalmente.  

 

Foi quando o General sentiu baterem-lhe às costas e ouviu a voz de Adhemar de Barros:

 

-"Aí, hein General! Olhando a bunda de Leonor, hein?"

 

Obs.: Esta estória, o próprio General Guedes contou, escandalizado, para o dr. Sebastião Dayrell de Lima, na minha presença, quando estávamos nós para saudá-lo, em nome da Simca do Brasil.

Notícias Populares

Lembrei de algumas estorietas, uma das quais dá u´a mostra eloquente da luta nossa (Relações Públicas) e do Depto. de Propaganda para enfrentar a situação de trabalhar um produto sem credibilidade... É o seguinte:

 

Havia um jornal, em São Paulo, de nome "Notícias Populares", direcionado à classe "C" (ou "D" ou "E") do público consumidor. Tinha como característica o noticiário sensacionalista e exagerado, voltado a crimes bárbaros e sanguinolentos, assuntos de classe operária (greve, dissídios), correio sentimental, classificado de empregos onde predominava a seção "Precisa-se (operários e/ou trabalhadores braçais)" etc.

 

E queria, porque queria, ter anúncio(s) da Simca...

 

Como não os recebia, mesmo porque a Simca preferia os veículos de primeira linha, o tal Notícias Populares publicava, todas as segundas-feiras, no noticiário de volta dos paulistanos das praias para o planalto, fotos de automóveis Simca no acostamento da Via Anchieta, parados com o capô aberto...

 

E nós, principalmente o Bandeira e eu, éramos encarregados de "agradar" o diretor do jornal, para que ele deixasse de publicar tais fotos. E, apesar de muitos almoços, alguns presentes e muita conversa, NUNCA CONSEGUIMOS, até que o "Notícias Populares" foi comprado pelo grupo da "Folha de São Paulo", jornal de primeira linha e que recebia, normalmente, publicidade da Simca...

 

Pneus: que vacilo!

Em 1964, o mercado de carros "grandes", nacionais,  era praticamente da Simca e da Willys, isto porque a Ford e a GM não tinham lançado o Galaxie e o Opala, respectivamente, ao passo que a FNM, já periclitante, tinha uma produção muito limitada do "JK", com tecnologia da Alfa Romeo, perdendo, muito, em percentual de participação, para as duas concorrentes (Simca e Willys).

 

Mas a Willys ganhava da Simca por alguns motivos, entre eles por possuir mais recursos financeiros. O Aero tinha a imagem de carro robusto (o Simca era chamado de "Belo Antonio"), embora não tivesse a estabilidade de um Simca e não fosse tão luxuoso, confortável e veloz quanto este.

 

Para retomar a faixa "perdida" do mercado, a Simca, em 1964, preparou um lançamento de impacto, que foi o Simca Tufão. Para esta lançamento, meu chefe, Antonio Rangel Bandeira, já falecido, o Gunter Pollack e toda a sua equipe, a Agência de Propaganda (Denison) e eu trabalhamos muito E COM SUCESSO!

 

Uma das atrações que foram idealizadas era a vinda da equipe de Jean Sunny, da França, que apresentou, pela primeira vez, no Brasil, acrobacias em automóvel andando sobre duas rodas, mostrando derrapagens controladas, "vôos" de rampa para outra, etc.

 

Procuramos, então, a Pirelli, nossa fornecedora oficial de pneus, para uma parceria na publicidade da apresentação dos acrobatas, já que, para o veículo andar sobre duas rodas, os pneus esquerdos rodavam com a banda lateral em contato com o solo, suportando todo o peso do carro e do piloto, devendo, para isto, serem calibrados com cerca de 100 libras de pressão.

 

Temerosa de que algum incidente - ou a exaustão - provocasse desgaste e estouro do(s) pneu(s), a Pirelli não se interessou pelo assunto...

 

Mas, Jean Sunny, depois de examinar os pneus disponíveis no mercado brasileiro, optou pelos Pirelli, que corresponderam plenamente, sem que a Pirelli tirasse qualquer proveito disso...

   

Pouco tempo depois, um então advogado da Pirelli, meu amigo até hoje, confidenciou-me que houve muita "bronca" lá dentro, pela oportunidade de divulgação barata que se perdeu!

 

 

Privada explosiva

Um operário, estando "no trono",resolveu, como é comum entre os fumantes, puxar um cigarrinho "no durante". Acendeu o fósforo e o cigarro e, prudentemente, entendeu de jogar o fósforo na privada, por entre as pernas.  

 

Foi quando ouviu a explosão e ... desabou sobre o que restou da privada (cacos ponteagudos)! Foi internado em estado grave, com cortes profundos, fratura, etc., só porque havia um entupimento nas instalações hidráulicas da fábrica e os restos de "thinner" despejados em algum lugar invadiram os encanamentos de água corrente que abastecia os banheiros.

 

Talento desperdiçado

Havia um rapaz, bom mecânico e muito interessado nos carros de competição, LOUCO para aparecer pilotando (foi ele quem capotou, ao tentar levar socorro ao carro da "volta ao mundo", em Brasília).

 

Um dia, na Via Anchieta, dirigindo em "vôo rasante", pediu passagem a um terceiro, que fez por ignorar. Forçou, e o outro..... NADA!   Então, esse nosso colega encostou o parachoque de seu carro no carro da frente e acelerou.   Danou-se, porque o condutor do carro da frente era um Gerente da Simca, com carro de outra pessoa (de outra marca, portanto), e que, no dia seguinte, fez demitir o promissor talento das pistas de competição...

 

Telex, coisa do outro mundo

No primeiro semestre de 1964 foi instalado um aparelho de telex na fábrica. O endereço telegráfico era SIMCABRASIL, o telex SIMCAPR3510120. Houve um episódio interessante que se sucedeu à instalação do telex, que ficava na sala dos secretários dos Diretores Presidente e Superintendente, quando a faxineira, no dia seguinte, pela manhã (6 ou 7 horas), viu a chegada de uma mensagem da França e imaginou que estivesse frente a uma máquina de escrever trabalhando sozinha. Ficou ESTARRECIDA, saiu correndo e quase teve um mal estar!

 

Tempero salvador

Certa vez, dois franceses foram passear de barco, no litoral norte de SP e se extraviaram, sem notícias.

 

Em São Paulo, um outro francês, preocupadíssimo, solicitou que nosso Depto. de Relações Públicas desse um jeito de localizar os dois até, se fosse o caso, pedindo ajuda do helicóptero da Volkswagen ("porrrque lá temmm immmdiôs", dizia o francês).

 

Sabendo disso, o Gilberto Baêta destilou todo o veneno e tratou de "inventar" que uma tribo tinha capturado os dois franceses náufragos e os tinha posto para cozer, em um caldeirão cheio de água.

 

Quando a água estava quase fervendo, os índios não gostaram do cheiro e libertaram os franceses...

Verdadeiro motivo

E, com relação ao Jairo Polizzi Guzman, sei que é advogado, mineiro, pioneiro da Simca. Era o encarregado do Jurídico, em São Paulo, reportando-se, apenas, em casos mais intrincados, a um advogado mais velho, radicado em Belô, de nome João Pinheiro. Este vinha periodicamente a São Paulo e trazia momentos de descontração, informação jurídica e era um emérito contador de casos.  

 

Contou, por exemplo, que foi procurado, em seu escritório, por uma senhora que se dizia aviltada pelo marido, que a queria "comer" por trás.

 

Na época, havia a justificativa de "injúria grave" para requerimento de desquite litigioso, e o dr. Pinheiro adotou esse caminho, amplamente justificável...

 

Acontece que, na primeira audiência, onde a tentativa de conciliação é obrigatória, pelo Juiz, a mulher, frente à pergunta clássica "- Há possibilidade de  reconciliação?"  saiu-se com essa:

 

"- Sim, Dr..   É só a mãe dele mudar de nossa casa!"

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