top of page

Manoel Tristão

Entrevistado: Manoel Tristão, sócio, diretor administrativo e chefe da oficina - entrevista concedida ao seu filho Flávio Tristão, em meados de 2003.

 

1) Nome do revendedor autorizado:

 

R. - AJAL, Juiz de Fora/MG.

 

 

2) Data de início e término das suas atividades na revenda Simca:

 

R. Início de 1959 até o final de 1967.

 

 

3) Quais os procedimentos e quais as exigências a serem cumpridas para receber a bandeira Simca?

 

R. (sem resposta)

4) Por que a revenda onde você trabalhou optou por vender carros nacionais?

 

R. (sem resposta)

5) Por que foi escolhida a marca Simca entre as demais fábricas nacionais?

 

R. Eu não vi, pois ainda não trabalhava na revenda.

 

 

6) Como era o mercado brasileiro de automóveis na época? E o peso dos importados ? Havia muita desconfiança dos consumidores, ou pode-se dizer que eles estavam ávidos por possuir automóveis nacionais?

 

R. Muito dividido e competitivo. O peso dos importados era pouco, pois a diferença de preço era muito grande. A desconfiança dos consumidores era mais ou menos de 50%, os outros 50% queriam automóveis nacionais.

 

 

7) Como era o relacionamento da sua revenda com a fábrica? Podemos compará-lo com as relações entre as montadoras e as concessionárias nos dias de hoje?

 

R. Ótimo, o melhor possível.

 

 

8) Em média, quantos carros a sua revenda vendia por mês? E peças, as vendas eram boas ou o mercado paralelo incomodava?

 

R. O número de carros vendidos variava muito, as vendas eram boas, o mercado paralelo não incomodava.

 

 

9) A Simca oferecia boas condições de trabalho para os concessionários, como rápida reposição de peças, ferramental especializado e cursos de treinamento/aperfeiçoamento para os mecânicos?

 

R. As condições eram ótimas, melhor impossível.

 

 

10) A fábrica estabelecia cotas de venda?  Ela  sempre tinha veículos disponíveis para entrega ao concessionário?

 

R. Não havia cota, quase sempre havia veículos na fábrica para reposição.

 

11) Na sua revenda sempre havia veículos para pronta entrega aos compradores, ou  eles  tinham que fazer a encomenda e aguardar algum tempo até receber o carro?

 

R. Variava de acordo com a época.

 

12) Qual a forma de transporte dos automóveis da fábrica até a sua revenda?

 

R. Todos vinham rodando com velocidade máxima de 60 km/h, da fábrica até Juiz de Fora eram 555 km. Nenhum apresentou defeito.

 

 

13) A fábrica fiscalizava os revendedores, oficinas e postos de serviço autorizados com rigidez? Ela se importava com a imagem da marca e com a qualidade dos veículos vendidos e dos serviços prestados?

 

R. Sim. Sim. Muito.

 

 

14) Como era o pós-venda? Havia real preocupação com a satisfação do proprietário de veículos Simca?

 

R. Sim. Muito.

 

 

15) Em julho de 1963 a Revista MECÂNICA POPULAR publicou uma reportagem intitulada Simca - Relatório dos Proprietários, o que também fez com as outras marcas nacionais. Em todas elas os concessionários ficaram em má posição, no caso da Simca 60% dos entrevistas qualificou entre razoável e má a assistência técnica dada pelo concessionário, 38% a disseram boa para ótima, com 2% de abstenção. A quais fatores o sr. atribui este resultado?

 

R. Deficiência na administração das oficinas e falta de qualidade em algumas peças (muito menos que nos carros atuais).

 

 

16) Um ex-funcionário da fábrica me disse que muitos concessionários foram aventureiros. O sr. concorda com esta afirmação, e pensa que os aventureiros possam ter prejudicado a imagem dos empresários sérios?

 

R. Sim. Sim.

 

17) É verdade que os carros vinham com problemas de fábrica e tinham que passar por severa revisão nos concessionários antes de serem entregues aos compradores, ou a revisão final era bem efetuada na fábrica?

 

R. Tinham que passar por uma revisão normal e prevista pela fábrica. A revisão final, efetuada na fábrica, era como as dos carros atuais (sempre algum defeito aparece se for verificado com atenção).

 

 

18) A  garantia funcionava de verdade?  Algum  carro  foi substituído  na garantia ? Quais as peças que mais apresentavam problemas e geravam substituição?

 

R. Funcionava de verdade. Nenhum carro foi substituído. As peças que mais apresentavam defeitos eram da parte elétrica.

 

 

19) Quais as maiores virtudes dos veículos Simca? E o maiores defeitos?

 

R. VIRTUDES: freios, direção, estabilidade, conforto, visibilidade, espaço interno, porta-malas, beleza, consumo baixo, durabilidade, manutenção simples e barata, segurança, desempenho esportivo (em alguns modelos), comercialização fácil e valorizada. DEFEITOS: não existiam! Os defeitos apontados por várias pessoas eram decorrentes da falta de adequação dos carros às nossas condições (ruas e estradas) e à falta de qualidade de algumas peças (muito menos que nos carros atuais).

 

 

20) Na sua opinião e considerando a realidade da época, o sr. pensa que o Simca era um bom automóvel? Por que? Compare-o com os outros nacionais da categoria, JK e Aero-Wyllis.

 

R. O Simca era excelente automóvel. Compará-lo com o JK ou o Aero Willys não é possível, pois são carros totalmente diferentes. Cada um dos três tem  suas características de projeto (JK e Aero Willys eram ótimos).

 

 

21) Por que o Aero Willys vendeu mais do que o Chambord?

 

R. Porque era mais adequado à nossa topografia e ao tipo de utilização mais comum.

 

 

22) Qual era o veículo Simca que mais agradava os seus clientes? E de qual eles menos gostavam?  Por que?

 

R. O mais vendido era o Chambord. Os que menos agradavam era o Alvorada, por ser menos luxuoso, e o Présidence, por ser muito caro e sofisticado.

 

 

23) É verdade que os concessionários tinham que "incrementar" o Alvorada e o Profissional com acessórios para conseguir vendê-los?

 

R. Sim, sim, em alguns casos.

 

24) Tenho conhecimento de que um engenheiro procurou a Simca e ofereceu o projeto de um novo carburador. Ao dar o preço, teve como resposta que o Simca vendia pela estética, não pelo desempenho. Existia mesmo este tipo de mentalidade?

 

R. Não, de maneira nenhuma. Os carburadores utilizados eram muito bons e adequados para os motores.

 

 

25) O sr. visitou a fábrica ? Como era ela?

 

R. Visitei muitas vezes e fiz cursos de mecânica na fábrica, ela era maravilhosa. Ainda tenho os diplomas.

 

 

26) O sr. tem conhecimento de que tenha sido fabricada alguma Présidence com uma "separação de vidros corrediços entre os lugares dianteiros e traseiros", que segundo o manual do proprietário poderia ser fornecida "sob pedido especial"?

 

R. Já ouvi isso, mas nunca vi o carro nem o manual do proprietário.

 

 

27) A sua revenda teve alguma participação em competições com o Simca?

 

R. Sim, patrocinou o Simca Show com os carros andando em duas rodas e fazendo outras acrobacias.

 

 

28) Quais as maiores virtudes da atuação da Simca?  E as grandes falhas? Por que ela não sobreviveu?

 

R. A maior virtude era ser um carro 100% nacional, a grande falha foi não ter sido adaptado às condições brasileiras, por isso não sobreviveu.

 

 

29) Como foi a transição da Simca para a Chrysler?

R. (sem resposta)

 

30) É verdade que a Chrysler incentivou a destruição de peças da Simca?

R. (sem resposta)

31) Como ficou a assistência técnica e a reposição de peças para os proprietários de Simca após o lançamento do Esplanada/Regente e, posteriormente, do Dodge? E as vendas dos veículos Simca já produzidos e estocados?  O seu preço caiu muito? Tenho conhecimento de um ofício da fábrica oferecendo para as revendas uma Jangada Emi-Sul com significativo desconto, encalhada no pátio da fábrica porque ninguém a queria.

 

R. Não sei, nesta época eu não trabalhava na concessionária.

 

 

32) O sr. tem conhecimento de que tenha sido fabricada alguma perua Esplanada, em substituição à Jangada?

 

R. Ouvi falar que foi fabricado só o protótipo.

 

 

33) Qual o saldo de ter trabalhado em uma revenda Simca? Valeu a pena?

 

R. Valeu muito, sob todos os aspectos: financeiro, social, realização pessoal e afetiva, pena que acabou. Vi chegar o primeiro Simca, em 1959, e o último, em 1967. O Simca é o melhor carro que eu conheço. Vendi o meu Jangada 1963, do que me arrependo, mas vou comprar outro Simca logo que puder. Tive também um Chambord 1960, ótimo. Foi uma pena tê-lo vendido.

bottom of page